Monday, May 11, 2009

Hoje o Poeta Morreu

Hoje o poeta morreu
Não lembremos do poeta
Hoje ele foi
E ele nem sabe pra onde foi

Se lembrarmos do poeta
Lembremos ao contrário
Porque ele foi mal
Porque ele foi vil
Porque ele foi
O que ele não foi
E assim não dói lembrar

Hoje o poeta
É uma página escrita
E tombada
É bruma, é espuma
É um relâmpago no céu
Dentro de alguém
(que ele nem sabe quem é)

O poeta é lenda
Nem existiu
Ele não é
Ele é a negação do ser
Como o conhecemos, ser
Ele negou
E anda por aí, negando

O poeta é pedra
Em cima de pedra
E pedra
Sobre um tempo
E ergue o tempo

O poeta é secular,
Seculento
Ele tem sabor à língua
Ele é da língua
Uma papila
Uma célula.

Ele foi cuspido (a língua mordeu-se)
O tempo o negou
Ele rachou
Um relâmpago queimou a página escrita
Porque ele foi vil, mal, e não foi
Caiu
Mas tudo bem
Ele não tem medo.

(2008, 1° semestre)

4 comments:

The tone said...

Curioso. Ao ler, eu sentia que essa forma de escrita, era você, mas parecia antigo. Bem, nem tanto assim, só um ano...
Gostei muito desse poema. Diferente do que você costuma fazer, ele estar em português dá uma fluidez, uma dança vai se formando.
Ele é simples, mas nao deixa de ter suas complexidades. Dá pra sorver poucos a pouco, e ter uma catarse legal. Só uma ou duas rimas atrapalham, parecem esatr ali teimosamente. E 'célulua' é assim mesmo ou problema de digitação?
Muito lindo! Vou recomendar, como sempre!

Thiago said...

luz e escuridão
qual oposição fraterna
o não e o não

Larissa said...

o poeta que é, é mais poeta; o que tem a maldade aquarelada em seus versos é mais sincero; o que é vil, que deixa a torpeza de sua existência reverberar em suas pautas, é mais humano. menos hipócrita consigo...
o poeta oculto não morre se não tem medo, ele se deixa ressoar para sempre nas dimensões do tempo pelas vozes de suas linhas.

The Dark Son of Janus said...

quem perde a esperança, perde o medo.