Monday, February 24, 2014

Jeitinho

O samba toca na veia
Uma salada ideal
faz essa gente

O jeito que vive
É o jeito.

Reviramos a cara em repulsa
O avesso da média é mais
Em minoria.

A reverência isana,
Ufana pátria, de pretos pardos
Cospem as dores da garganta em cantos.

E agora os chicotes
Estalam os dedos e fazem essa gente sofrer
Ainda a guerra.

Sobrevivem os secos sangues
E molhados suores.
É o jeito de quem precisa-
                           [mente faz
O que a gente
              [acha que
não deve.

Em nossa estupidez
Aprendemos o samba
Tomamos sua alma.

Sunday, June 17, 2012

Rascunho de saudade

Longe
Tão perto do meu jeito
Distante
em tanta terra

Cai a folha
De um bordô o céu se pinta
Sua mente escuresce
A minha já escuresceu.

Olho para o céu,
não está.
esta realidade
O momento deste lugar nunca mais foi agora.
É agouro.

Olho para o céu,
voar para ver você.
Ao horizonte, você está lá.
Ao horizonte, Sísifo, subo o morro.
Morro de saudades.

Friday, September 2, 2011

Em chamas

Fogo!
Tudo chama
Clara, lânguida flama
Vela.

Saturday, July 16, 2011

Manifesto

De que adianta a vida
Que se resume a sobrevida?

Vale o que?
Se o coração teimoso sem vontade bate
O cartão de ponto,
O apito do dia,
O pino da vida.

Espírito posto no horizonte,
Doce memória.
Alvorada dos povos, já ilusão
O dia já vai anoitecer
Melancolia

Em tudo bate o coração, ignaro.
Sangue de pó
E enquanto não descansa,
não traz descanso.
Só desgosto.
Esgoto.

Nada mais toca o pensamento,
nada mais entoca.
Em nenhum lugar ecoa
De nenhum lugar soa.

O mundo acabou,
Não há nada que não seja vilania e desespero

09/julho/2010

Sunday, July 10, 2011

Anima

Fala a minha mulher
Interna
Aos meus sentimentos

Mas fala
Com a voz que me deu
Minha mãe

Conta um segredo
Um desejo de me ouvir cantar
Que me diz assim:

Sou sangue do teu sangue
Quando pulsa no peito
A paixão proibida
O amor e o ódio que sentes profundo,
Calado, cativo

Sou tua musa escondida
Tua bela perdida
Num fundo, num mundo qualquer
Que cantas,
Que chamas
Que juras
Mas enfim, não quer.

Sou tua costela roubada,
Tua morte antecipada
(teu segredo mais íntimo)
Sou podre, sou puta,
Sou bruxa, sou
Mulher

Sou tua filha perdida
Tua mãe escondida
Dos teus delitos cruéis
Sou madre, sou santa,
Sou um canto
Uma idéia
Um revés

Sou minha filha cativa
Minha voz perdida
Nos teus delírios cruéis
Sou maré, sou tantra
Sou o barro,
Sou alguém
Que não és

Sou tua filha, cativa
Numa torre, minha
- - - - - - - - - própria
- - - - - - - - - saída.
Numa mente, fechada
Numa dura, fachada
Numa palavra,
a trois
demência
amor.

Saturday, June 25, 2011

Old Poems of the Light Son: Menina dos olhos

Onde estão as meninas
Azuis
Nos olhos dos céus afegãos
Reflexão da loucura
Da vaidade

Onde estão as jovens meninas
Dos olhos bombásticos
Estáticos
Bobos, vidrados
Nos vidros das selvas de vidros

E quando elas acordam
Do acorde dos sonhos
O que elas olham?
E quando dormem os olhos
O que eles sonham?

Onde estão os sorrisos
Dessa nação
Pudica nos campos de areia
Ao vento
Alheia ao mundo

Onde estão os jovens meninos
Da terra deserta, inerte
Lutando por suas mulheres férteis
Sozinhos
Combalidos, perdidos

E quando vem os soldados cruzados
A repetir no futuro o passado
O que eles vêem?
E quando vem os soldados armados
A repetir da justiça o passado
O que pensam?

Circa 2005

Old Poems of the Light Son: Compreender

Distingue o homem tolo a obra alheia
Como se alheia fosse de vontade,
Finita e morta de necessidade,
A alma, o engenho, a obra, estreita, anseia.

Mas se adentro, a arte pulsa a veia,
Saltando aos olhos sua intimidade,
Esta janela e espelho da verdade
Sustenta o ser já fundo de idéia.

Mutando a mente, o ser se muda junto
Do artista, de sua obra e dessa vida
Pois dentro e fora e adentro se transforma.

Entende-se na obra a própria forma
Transforma-a no seu íntimo movida
Confeccionando-a, nova, em novo mundo

Para a professora Maria Nazaré de Camargo P. Amaral
04 de setembro de 2006