Sunday, July 10, 2011

Anima

Fala a minha mulher
Interna
Aos meus sentimentos

Mas fala
Com a voz que me deu
Minha mãe

Conta um segredo
Um desejo de me ouvir cantar
Que me diz assim:

Sou sangue do teu sangue
Quando pulsa no peito
A paixão proibida
O amor e o ódio que sentes profundo,
Calado, cativo

Sou tua musa escondida
Tua bela perdida
Num fundo, num mundo qualquer
Que cantas,
Que chamas
Que juras
Mas enfim, não quer.

Sou tua costela roubada,
Tua morte antecipada
(teu segredo mais íntimo)
Sou podre, sou puta,
Sou bruxa, sou
Mulher

Sou tua filha perdida
Tua mãe escondida
Dos teus delitos cruéis
Sou madre, sou santa,
Sou um canto
Uma idéia
Um revés

Sou minha filha cativa
Minha voz perdida
Nos teus delírios cruéis
Sou maré, sou tantra
Sou o barro,
Sou alguém
Que não és

Sou tua filha, cativa
Numa torre, minha
- - - - - - - - - própria
- - - - - - - - - saída.
Numa mente, fechada
Numa dura, fachada
Numa palavra,
a trois
demência
amor.

Saturday, June 25, 2011

Old Poems of the Light Son: Menina dos olhos

Onde estão as meninas
Azuis
Nos olhos dos céus afegãos
Reflexão da loucura
Da vaidade

Onde estão as jovens meninas
Dos olhos bombásticos
Estáticos
Bobos, vidrados
Nos vidros das selvas de vidros

E quando elas acordam
Do acorde dos sonhos
O que elas olham?
E quando dormem os olhos
O que eles sonham?

Onde estão os sorrisos
Dessa nação
Pudica nos campos de areia
Ao vento
Alheia ao mundo

Onde estão os jovens meninos
Da terra deserta, inerte
Lutando por suas mulheres férteis
Sozinhos
Combalidos, perdidos

E quando vem os soldados cruzados
A repetir no futuro o passado
O que eles vêem?
E quando vem os soldados armados
A repetir da justiça o passado
O que pensam?

Circa 2005

Old Poems of the Light Son: Compreender

Distingue o homem tolo a obra alheia
Como se alheia fosse de vontade,
Finita e morta de necessidade,
A alma, o engenho, a obra, estreita, anseia.

Mas se adentro, a arte pulsa a veia,
Saltando aos olhos sua intimidade,
Esta janela e espelho da verdade
Sustenta o ser já fundo de idéia.

Mutando a mente, o ser se muda junto
Do artista, de sua obra e dessa vida
Pois dentro e fora e adentro se transforma.

Entende-se na obra a própria forma
Transforma-a no seu íntimo movida
Confeccionando-a, nova, em novo mundo

Para a professora Maria Nazaré de Camargo P. Amaral
04 de setembro de 2006

Thursday, June 16, 2011

Análise de conjuntura

Modernidade:
Cada pessoa, um troféu
Cada troféu, uma sina
A cada dobra de um beco
canto escuro e poeirento o vazio
Desalmado e frio

Extermínio:
Corpo oco não pensa
Corpo oco não pesa
Corpo oco de empresa
Corpo oco de entrega
Corpo oco recheio de margarina sem gorduras trans pela metade do preço

Transubstanciação:
Máquina: a flora da terra
"Colhei seus frutos!
e comprai-vos nos mercados!"
Gente é pão, é vinho
Pão é ferro, madeira, couro
Vinho é gasolina, diesel
Oroboros

Tudo o que é sólido desmancha no ar:
Você é real
Você é o real
Vai ser o real
Mais ter o real
Mais ter que um Real
Meu deus é Real

Thursday, December 9, 2010

take no prisioners (as they influence our energy demands for FTL)

a man inside a box moans
he reaches the lid
feels the wind as it blows life back
keep floating in the mud

the trashcan is dumped
he gently changes bags
while hearing the crackle
of charlies' deaths

traffic lights all red
the truck stops at...
the truck stop
whatever...

all connections lost
no light travels
all we have is a red sky
and some arsenic
for the acid
in bacteria

california is right there
but florida is waaaaaaaaaay
back there.

Tuesday, June 29, 2010

Conto de um grande homem

Era uma vez um homem que queria ser grande.
E um grande homem lhe disse
"Daqui, todo mundo é pequeno".

Enquanto isso, os homens pequenos fabricavam ouro de lixo.
E esperanças eram plantadas em latifúndios.
Colhia-se desilusões.

Pessoas morriam umas às outras.
Os gigantes erravam o caminho, sem memória.
Idiotas tomavam Canaã.

Houve um tempo.
Em que grandes homens morriam ao contrário
Puxados da cova da nulidade
Em revoluções.

Agora,
No fim da história,
O mundo e os homens
morriam,
só.

Monday, March 1, 2010

Bleak

I wait by the fireplace.
The comfort of home.
I seek the answer
for the prayers I wrote
and they never come.

I wail to the door
as I never done before.
I wake from a world
full of lies, full of pride.
I lost my hope.

GONE.
Don't cry for what's lost.
Drift further across.
Lie still while your muscles
learn how to walk again.
Turn your back to the ones
who made you bleak.

Who made you bleed.

I step into the temple
and I pray for our god.
I live the dream
as Mother thins out.
Just one more.

Leech me dry
and feed me to the dogs.
I'll rip their meat and bones.
I won't find peace
in the pieces I keep.

UNDONE.
Fall from grace.
Embrace your grin.
Sink your teeth in the skin
of those who kneel.
Feel as their blood
will fill your void.

Take what's yours.

Give way to a killing wave.